Manuel Ribeiro de Pavia (Pavia, 1907–Lisboa, 1957), foi o expoente da ilustração neorrealista portuguesa. Amigo e companheiro de tertúlia nos cafés do Chiado, Pavia foi o capista eleito dos escritores e poetas seus contemporâneos. A lista é impressionante: Alves Redol, Aquilino Ribeiro, Eugénio de Andrade, Fernando Namora, Ferreira de Castro, José Gomes Ferreira, Júlio Graça, Domingos Monteiro, Faure da Rosa. Mais conhecido pelas ilustrações sobre o Alentejo, a sua generosidade estendeu-se a um género literário emergente nos anos quarenta, os romances e relatos de viagens na África colonial portuguesa. Ilustrou Ferreira da Costa, em reedições sucessivas de Na Pista do Marfim e da Morte e Pedra do Feitiço, e várias obras de Castro Soromenho, onde se destacam Noite de Angústia, de 1943, e A Maravilhosa Viagem dos Exploradores Portugueses, obra em fascículos colecionáveis onde assinou também o grafismo.
Pavia retratou uma África voluptuosa, mágica, inquietante e caricatural. Os corpos de homens e mulheres saturam as ilustrações, mas a nudez é casta, pitoresca, pintada a tinta da china e guache branco sobre papel, imitando a técnica da gravura sobre madeira. Tinha o sonho de criar extensos murais, à semelhança dos seus ídolos mexicanos Rivera e Siqueiros, e acabou por os concretizar em África, onde, de resto, nunca esteve. Dois painéis de azulejos que pintou na fábrica da Viúva Lamego, em Lisboa, decoram um edifício da autoria do arquitecto Francisco Castro Rodrigues, na cidade do Lobito, em Angola. A Pavia não interessavam os estigmas do colonialismo. A sua visão ingénua de África permitiu capas para uma série de sete cadernos editados pela Sociedade de Geografia de Lisboa que ensinavam aos novos colonos, emigrantes da metrópole, as boas práticas colonizadoras.
Fontes
Pavia, Câmara Municipal de Mora, 2007 / Revista Vértice, n.º 164, Maio 1957 / Manuel Ribeiro de Pavia, catálogo, Casa de Cultura de Mora, 1996
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