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histórias da ilustração portuguesa

Os bons costumes portugueses

Costumes Portugueses, il. desc., ed. Papelaria V.ª Marques, Lisboa, 1936

Os correios portugueses emitiram o primeiro bilhete postal em 1878 e os primeiros ilustrados em 1894, no V Centenário do Nascimento do Infante D. Henrique e em 1901 há notícia de  uma série com costumes, monumentos e paisagens de Coimbra, editados por Albino Caetano. As duas séries de Alberto Souza, (1880-1961), a 5.ª série de Lisboa e as paisagens da 3.ª, são do princípio do século. Com as suas cores acinzentadas e uma virtuosa impressão litográfica, são um tesouro para colecionadores. Continuando a tradição oitocentista de representação do pitoresco em gravuras e litografias avulsas, as séries de costumes regionais cedo se concertaram com a organização política do território. Lisboa, a grande metrópole, constituiu-se como tema próprio desde muito cedo, como a curiosa colecção editada e desenhada por Angelo N. Pons caricaturando tipos citadinos, em 1904.

Os Ballets Russes de Diaghilev, que se exibiram em Lisboa em 1917 e 18, marcaram profundamente a primeira geração modernista portuguesa. E reavivaram a chama do imaginário popular rural. O programa estético modernista privilegiava o progresso urbano e a classe média mas não resistiu muito tempo à indiferença geral. A mulher da hortaliça* regressava, nos finais de vinte, mais estilizada nas capas da revista Civilização, mais naturalista nas da Ilustração, ambas cumprindo o ideário do nascente Estado Novo: exaltar a identidade lusa e a pureza do mundo rural.

Typos Populares de Lisboa – 5.º Série, il. Alberto Souza, ed. A Editora, 1904

Portugal – Typos das Ruas, il. e ed. Angelo N. Pons, 1904

Províncias de Portugal, il. Alfredo Morais, ed. António Vieira, Lda., Lisboa, s.d.

Costumes Portugueses, il. Alfredo Morais, ed. G&F, Lisboa, 1940

Costumes Portugueses, il. desc., ed. Papelaria V.ª Marques, Lisboa, 1936

Il. Elisa B. Felismino, ed. MCL, Lisboa, s.d.

Il. Cesar Abbott, ed. Centro de Novidades, Porto, 1942

Costumes Portugueses, Série B, il. Alberto Souza, ed. CTT, 1941

Costumes Regionais Portugueses, il. desc., ed. desc., 1939

O bilhete postal de costumes dos anos 20 a 40 resiste ao acerto com o Modernismo esteticizado de Bernardo Marques, Jorge Barradas ou Roberto Nobre, e fica-se pelo naturalismo, muito graças à prolífica carreira de Alberto Souza. A formidável equipa de modernistas portugueses ao serviço da Política do Espírito de António Ferro não teve oportunidade de brilhar no bilhete postal. A exceção é uma notável coleção de 12 postais de Piló (Manuel Piló, Lisboa 1905-1988), na década de trinta e onde a depuração gráfica se aproxima dos cânones construtivistas dos anos 20. Para o Neo-realismo, incluído na terceira geração modernista, coreografar o pitoresco das classes trabalhadoras estava fora do programa, apesar das sugestivas ceifeiras de um Pavia ou de um Cipriano Dourado.

Emilio Freixas (1899-1976), glória da banda desenhada espanhola, revela uma mudança apreciável numa série criada para a editora Ibis, já na década de 60. A ruralidade perde relevância na crescente urbanização do país e consolida-se o turismo de massas: a série inclui várias cenas de touradas para os postais do Ribatejo. Ao chegar aos anos 70, o bilhete postal de costumes ilustrados já não se levava a sério. Eugénio Silva (Barreiro, 1937), parodiava os tipos regionais adoptando o pop delicodoce da época e Zé Penicheiro (Arganil, 1921) ilustrou a Ria de Aveiro e a Figueira da Foz, nos anos de 73 e 74, no contexto da sua auto-denominada Caricatura em Volume. A  fotografia tornou-se totalitária e os postais, em kitsch technicolor, abasteciam hordas de turistas apressados.

Costumes Portugueses, il. Piló, ed. António Vieira, Lisboa, s.d.

Il. Laura Costa, ed. Oliva (máquina de costura), 1957

Il. D. Fuas, ed. desc., s.d.

Il. desc., ed. desc., s.d.

Portugal e Suas Maravilhas, il. João Alberto, ed. MD, Lisboa, s.d.

Costumes de Portugal, il. desc., ed. AVL, Lisboa, s.d.

Portugal em Silhuetas, il. desc., ed. António Vieira, Lda., Lisboa, s.d.

Il. Emilio Freixas, ed. Ibis, s.d.

Trajes Regionais Portugueses, il. Eugénio Silva, ed. Âncora, Lisboa, s.d.

Il. Zé Penicheiro, ed. Comissão Nacional de Turismo, Aveiro, 1973

A ausência de créditos de edição e autoria artística é frequente. As datas das séries aqui representadas referem-se a carimbos dos correios em postais circulados. Podem não coincidir com as datas de publicação inicial.

* Referência à frase de Christiano Cruz, em 1913, contra o academismo naturalista, personificado por Alberto Souza.

Fontes: Ilustradores Portugueses no Bilhete Postal, Artemágica Editores, 2003

O Povo de Lisboa, catálogo, Câmara Municipal de Lisboa, 1979

Os Postais da Primeira República, António Ventura, Tinta da China, 2010

http://postaisilustrados.blogspot.com

http://www.hernanimatos.com


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6 Responses

  1. Que excelente colecção!

    Também descobri nas obras da casa onde estou vários exemplares iguais do Zé Penicheiro.

  2. beatriz diz:

    que giro! tenho alguns desses desenhos, em calendários

  3. Raquel Patriarca diz:

    Bom dia, antes de mais o seu blog é maravilhoso! Queria pedir-lhe ajuda para tirar uma dúvida… Estou a fazer um estudo sobre História do Livro Infantil em Portugal e encontrei um ilustrador, designado apenas por Morais, e acerca de quem não encontro informação nenhuma. Acha que me pode ajudar? Obrigada e bom trabalho.
    Raquel Patriarca

  4. […] A great collection of them can be found here. […]

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  6. Estou absolutamente fascinado por este blog. Muito obrigado.
    E em “homenagem” à primeira gravura, aqui fica Amália Rodrigues com as Lavadeiras de Caneças: http://youtu.be/buS2ivS94nI

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