Portas e janelas abertas colocam-nos subitamente no meio de um drama doméstico. Sufocados no seu dilema, aguardando um desenlace para o qual precisam de uma testemunha, o leitor, os personagens de Patrícia Romão (Lisboa, 1974), estão prisioneiros de um enredo que desconhecemos mas que nos é familiar. O cenário é sintético, esquemático, apenas palco crível para a ação. O traço informal, quase hesitante, foca-nos nos personagens. Ilustrando artigos e crónicas sobre relações humanas em contextos editoriais diversos, as ilustrações são também preciosas pela sua autonomia narrativa em relação ao texto escrito e, portanto, contêm a sua própria história.
A capacidade de representar emoções é qualidade rara na ilustração editorial. A mensagem é particularmente condicionada pelo meio, ou seja, pelo registo gráfico do artista. A visão autoral provoca, portanto, uma emoção estética. O mal-estar existencial que se desprende destas imagens é caso raro, para não dizer único, na ilustração portuguesa. Um olhar feminino, desencantado, que nos comunica a impossibilidade de comunicar. Olhar pertinente pelo acerto com as inquietações do nosso tempo e pela denúncia, ainda que silenciosa, das nossas voláteis relações pessoais.
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