O Jardim Zoológico, requisito obrigatório de urbes civilizadas, ansiosas de recreio e instrucção, foi inicialmente pensado para a Tapada da Ajuda em 1864, sonhado mas nunca realizado pelo rei D. Luiz I. A 28 de Maio de 1884 abre o primeiro Jardim Zoologico e de Acclimação de Lisboa, instalado num luxuriante parque em São Sebastião da Pedreira graças aos beneméritos proprietários e a dois notáveis empreendedores particulares. Onze anos depois, em 1895, o Jardim passa para terrenos contíguos, em Palhavã, onde se intalou um parque de tamanho e fauna mais modestos. Mais dez anos e o terreno passa a velódromo, migrando o jardim zoológico para um merecido descanso eterno na Quinta das Laranjeiras, ali a Sete-Rios. Esta e outras histórias conta Henrique Marques Júnior no O Livro de Luisa da Biblioteca Infantil, editada pela Guimarães & C.ª em 1915. A primeira peça do livro, Um passeio pelo Jardim Zoologico e de Acclimação é uma miscelânia de reportagem, apontamentos de História Natural, fábulas estafadas e casos pitorescos ou cómicos respigados de jornais e relatos de naturalistas célebres.
Francisco Valença (Lisboa, 1882-1959) é o alegre comentador gráfico do livrinho. Herdeiro bonacheirão de Bordallo Pinheiro, Valença alterna entre o naturalismo cómico e a antropomorfização caricatural, as feras macaqueando tiques e manhas do bicho-homem. A fórmula é rara e o próprio Marques Júnior a isso se refere em nota final no livro. Estamos já longe do classicismo Arte Nova de Julião Machado nas Fabulas de Bocage, de 1905, essas sim, lembrando a herança pesada do francês Jean Grandville. Longe também de uma produção modernista na ilustração para a infância. Afinal, Valença apenas transfere para a bicharada o seu traço fluido e ligeiro, treinado no comentário desse outro grande Zoológico que era a agitada I República Portuguesa, a um passo da ditadura sidonista.
excelente meu caro1 keep the good work!