
O astro-rei já se passeou pelo Almanaque a soldo do turismo de praia com a bênção do Estado Novo e o traço expressivo do ilustrador Oskar, mas a sua exploração alimentava facilmente outros desígnios comerciais, à volta de qualquer maquineta ou substância artificiosa que irradiasse calor. Iria acontecer com o nosso Tom numa campanha de publicidade e merchandising ao longo da década de 50 para os Briquetes Pejão, substituto do carvão vegetal. Criados no Studio Tom da Rua Ivens, ao Chiado, estes diabretes incandescentes, cuja humanização andava longe de ser original, pululavam em calendários, folhetos pop-up, cartões de Boas Festas, postais e tudo o mais que a máquina comercial da empresa e o engenho gráfico de Tom se lembrassem. O apogeu comercial dos briquetes do Pejão situa-se entre 1939 e finais da década de 50. A região do Porto era a principal destinatária e a sua utilização abarcava o âmbito doméstico, os transportes e fábricas de cimento.
A situação no Couto Mineiro do Pejão, algures nas terras de Castelo de Paiva, junto ao rio Douro, era tão negra como a cara dos alegres bonecos de Tom. A matéria-prima dos briquetes era extraída a ferros de um carvão de categoria inferior, dado o seu elevado teor em cinzas, e com tecnologias ultrapassadas. E a Empresa Carbonífera do Douro, detentora das minas, ainda sofreu um revés no tribunal quando tentou, por via judicial, monopolizar a designação de «Pejão», em 1961. A pretensão foi negada num acórdão que sublinhava «Que a povoação de Pejão deixou de existir por haver sido destruída pela lavra das minas de que a recorrente é concessionária», naquilo que seria hoje um inconcebível atentado ambiental. O azarado empreendimento arrastou-se ao longo de décadas de exploração ruinosa, já na mão do Estado desde 1974. A sua extinção definitiva, em 1994, encerrou o «ciclo do carvão» em Portugal.





Fontes:
Tom, Jorge Silva, editora Arranha-céus, 2020
Mutações da paisagem do Couto Mineiro do Pejão, António Correia, http://ml.ci.uc.pt/mhonarchive/archport/msg22695.html
Boletim de Propriedade Industrial, n.º 1, 1961 https://servicosonline.inpi.pt/luceneweb/1961_01/01_1961_MNA0000077124.pdf

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