Os desenhos de Amadeo de Souza-Cardoso foram fonte inspiradora para ilustradores de várias gerações, como os XX Dessins, de 1912, o óleo sobre tela Saut du lapin de 1911 ou o álbum La Légende de Saint Julien l’Hospitalier, sobre um conto de Gustave Flaubert. Amadeo estudou em Montparnasse o Impressionismo, o Expressionismo e o Cubismo e torna-se uma referência mítica da modernidade nas artes plásticas portuguesas. Morre jovem, aos 31 anos, vítima da “pneumónica” que assolou o país em 1918. A sua influência pode ver-se na obra gráfica do ilustrador João Carlos, ao longo dos anos 30 e 40, e numa curiosa série de livros infantis da editora Civilização, iniciada no final da década de 50. Em traduções de clássicos estrangeiros, António Quadros (Viseu, 1933-Tondela, 1994) grafa a bicharada ao jeito de Amadeo, em riquíssima pelagem gráfica, como no primeiro livro da série, Histórias do Tio Remo, de 1959. O bestiário exótico de Quadros tem raiz popular e inspiração erudita na pintura do século XX, em Picasso e Chagall, mas a figuração humana tem outra fonte, bebida no cartoonismo da época. A mistura resulta estranha e livros seguintes como A Princesa e os Duendes de 1960, O Gnomo e Histórias de Xerazade de 1962, ou Curdie e a Princesa de 63, afastam-se progressivamente das jóias gráficas de Amadeo até ao traço despachado, embora denso, dos últimos livros. Quadros ilustra dez livros da coleção, assinados alguns com outro apelido (António Lucena). Pintor, poeta, ceramista e apicultor (descobriu mesmo uma nova espécie de abelha), teve profunda influência nas artes plásticas, arquitectura e literatura de Moçambique, para onde emigrara em 64, desencantado com o regime salazarista e o conformismo da sociedade portuguesa.
As ilustrações foram restauradas digitalmente
Fontes
António Quadros, o sinaleiro das pombas, edição Árvore/BPI, 2001
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