Esperam amores, amantes, o desfecho de um mistério, ou apenas o destino. Sentadas muitas, que a espera parece longa. São personagens e espaços de cenografia minimalista num teatro de solidão e saudade que atravessou autores e literaturas, do romance histórico português ao policial dedutivo inglês, do realismo francês ao romântico brasileiro. São as imagens de Baganha (Albino Duarte Baganha), ilustrador de fugaz presença no cruzamento das décadas de 50 e 60, em deliciosas capas de livros de bolso da Editora Civilização. Baganha oscilava entre o traço rápido quase esboço e a preciosa anatomia comparável a ilustradores da época como Paulo-Guilherme ou Luís Filipe de Abreu. Em sóbrias impressões a duas cores diretas, Baganha adiciona uma terceira cor com o branco do papel. Na ilustração de Contos Escolhidos, de Machado de Assis, podemos observar como a figura foi desenhada simultaneamente no convencional traço negro e a branco em recorte no fundo rosa, em virtuoso jogo de positivo-negativo. A utilização do branco como cor permitia desenhar sem traço como na capa de O Sonho, de Zola. O processo de trabalho não tinha um original equivalente ao resultado impresso, apenas layers em papel, pincelados a preto, que na oficina tipográfica se traduziam em chapas de impressão de cores diferentes. As singelas capas de Baganha são o testemunho de uma época de grande intimidade entre artistas gráficos e técnicas de impressão, e que tem hoje na ilustração digital equivalente nas cores planas simuladas em sofisticados softwares de desenho vetorial e edição de imagem.
As time goes by
They await love, lovers, the unveiling of a mystery or simply their fate. Many are seated, as it seems to be a prolonged wait. They are characters and spaces in a minimalist setting of some forlorn, wistful theatre that has informed authors and literary genres from Portuguese historical novels to English detective stories, from French realism to Brazilian romantic fiction. They are drawings by Baganha (Albino Duarte Baganha), an illustrator who emerged fleetingly in the late 1950s and early 60s and created the delightful covers of Editora Civilização paperbacks.nBaganha’s work veered from rapid, almost sketch-like, drawings to meticulous anatomical detail much like contemporary illustrators such as Paulo-Guilherme and Luís Filipe de Abreu. To sombre two-colour direct printing, Baganha adds a third, the white of the paper. In his illustration for Contos Escolhidos [Selected Tales] by Machado de Assis, we can see how the figure was drawn conventionally with a black line and simultaneously in white, which stands out against a pink background in a positive-negative interplay of great virtuosity. Using white as a colour allowed him to produce lineless drawings, as in the cover for O Sonho (The Dream) by Zola. The original work process was not the same as the printed result, but merely layered paper and black brush strokes, which became diverse colour printing plates at the printers. Baganha’s simple book covers testify to a time when graphic artists and printers worked very closely together, akin nowadays to digital illustration with its plain colours simulated by sophisticated vector-based graphic and image editing software.
As ilustrações foram restauradas digitalmente