almanaque silva

Ícone

histórias da ilustração portuguesa

Latin lovers

“Ao tornar-se famoso, ele esqueceu o primeiro amor… Mas esperava-o uma grande lição” Foto-Romance n.º 18

happy end de um casamento convencional era a obsessão das portuguesas dos anos cinquenta e sessenta. Ou assim parecia, dada a quantidade industrial de foto-romances, fotonovelas na ligeiríssima aceção portuguesa, com que os editores bombardeavam o público feminino, ávido de romance e crente do mito do príncipe e da pastora. Os homens, mais prosaicos, preferiam o sexo explícito, ou quase, dos livrinhos do Vilhena e das revistas de cinema com atrizes sumariamente vestidas. Arte popular, mas de produção sofisticada, tributária do cinema e da televisão, o romance fotográfico resistiu até aos anos oitenta, mas acabou por ser vítima do seu paradoxo: o extremo realismo da fotonovela não era compatível com o estatismo das suas fotografias, ao contrário da banda desenhada, onde o grafismo codificado dá ao leitor maior liberdade para ligar a sequência de imagens. A aceleração da cultura visual e o progresso social e cultural tornaram a fotonovela uma relíquia kitsch, perdida no tempo e apenas reciclada episodicamente em registo de paródia.

Herdeiro dos cine-romances dos anos vinte e trinta, o primeiro foto-romance viu a luz do dia em Itália em 1947 na revista Il Mio Sogno. Chamava-se Nel fondo del cuore e estrelava a debutante Giana Loris, a futura diva do cinema italiano Gina Lollobrigida. O foto-romance foi também uma extensão natural do romance desenhado, de figuração erotizada e muito popular pelos anos quarenta. A propagação do novo género foi quase intantânea e alastrou pela França, Bélgica e Espanha. Como de costume, as xaroposas histórias fotográficas chegaram tarde a Portugal, em adaptações compradas aos grandes grupos editoriais franceses e italianos, mas nas fichas artísticas da rara produção autótone podemos encontrar vedetas portuguesas do teatro e da televisão.

A coleção Foto-Romance, editada semanalmente por Aguiar & Dias em 1959, e que se assumia como “a primeira revista do género publicada em Portugal”, tinha curiosas capas ilustradas pelo único português capaz de ombrear com talentosos ilustradores estrangeiros, como o espanhol Emilio Freixas, que prevaleciam no mercado de revistas e livros cor-de-rosa, com as suas ilustrações veristas e anatomicamente virtuosas. Na realidade, durante toda a década de sessenta, Carlos Alberto Santos (Lisboa, 1933) inundou os quiosques e livrarias com românticas policromias pintadas a guache para centenas de publicações da Agência Portuguesa de Revistas. Mas as capas da Foto-Romance são algo muito diferente. Em esplendoroso preto e branco sobre cartolina laranja, Carlos Alberto traça pares românticos em flagrantes de sedução num registo linear impecável. Uma absoluta raridade, quando comparada com publicações similares espanholas, francesas ou italianas e até mesmo com a deriva fotográfica posterior das revistas portuguesas do género.

“Não sabia sequer os nomes dos pais, mas deveria por isso renunciar ao amor?” Foto-Romance n.º 5

“Nada sabiam um do outro, mas o seu amor resistiu a tudo…” Foto-Romance n.º 8

“Quando o coração tem razões que o cérebro não entende” Foto-Romance n.º 2

“Quando o amor nasce à mesa de um café” Foto-Romance n.º 10

As ilustrações foram restauradas digitalmente.

Fontes

Les Années Roman-Photos, Editions Veyrier, 1991

Portugal, Século XX – Crónica em imagens 1960-1970, Joaquim Vieira, Círculo de Leitores, 2000

http://www.historia.com.pt/APR/CarlosAlberto.htm

Filed under: Carlos Alberto Santos, Fotonovela,

Visitas

  • 603.546

Posts