Elefantes, búfalos, rinocerontes, hipopótamos e leões, constavam da sua extensa lista de feras abatidas, muitas vezes em defesa das culturas agrícolas e populações indígenas. A prática da caça grossa que o celebrizou era feita no contexto das suas funções administrativas, em Moçambique, nas décadas de 40, 50 e 60, como inspetor e administrador de circunscrição, incluindo a Gorongosa e, por acumulação, administrador do seu Parque Nacional. E permitiu-lhe o estudo das espécies no seu habitat natural, registadas em cativantes edições. Homenageado pela Sociedade de Geografia de Lisboa em maio de 2013, João Augusto Silva, JAS, (Ilha da Brava, Cabo Verde, 1910-Paço D’Arcos 1990), foi funcionário da administração colonial, naturalista, escritor e ilustrador, todos estes papéis ao serviço da memória e preservação da fauna e cultura africanas. Como prova o título do seu primeiro livro, Da Vida e Amor da Selva, publicado em 1936 e contemplado com o Prémio de Literatura Colonial da Agência Geral das Colónias. Seguir-se-iam, em 1956, Animais Selvagens, sobre a fauna moçambicana, em 1964, Gorongosa: Experiências de um Caçador de Imagens, e em 1965, Selva Maravilhosa: Histórias de Homens e Bichos, ficção baseada na tradição oral moçambicana, reeditado em 1971 com ilustrações de José Antunes.
Grandes Chasses, um guia de caça grossa nas colónias portuguesas de África, foi editado em francês para a participação portuguesa na Exposição Internacional de Paris de 1937, e juntava-se a outras edições do evento, como Quelques Images de L’Art Populaire Portugais, ilustrada por Paulo Ferreira, La Maison Portugaise à Travers les Âges, por Jorge Barradas, e a série de postais Types de L’Empire Portugais, do pintor Eduardo Malta. A miscelânea gráfica destas publicações não refletia naturalmente qualquer direção artística orientadora. Ao realismo académico de Malta, o verismo depressivo de Barradas e a alegria naif de Paulo Ferreira, juntou-se o decorativismo de João Augusto Silva. O formalismo da composição, o traço estilizado, de grande rigor anatómico e o contraste de preto-branco, conferem uma imagem metafórica da caça, longe da cruenta predação nas savanas de África, de que a capa do livro dá sinal, com a estilizada violência de um antílope ferido de morte, ao jeito da representação clássica do martírio masoquista de São Sebastião. JAS é bem o reflexo da deriva decorativista do Segundo Modernismo português, a década e meia do emocionante e fotográfico retrato da caça colonial de outro emérito ilustrador-caçador, Manoel Lapa, nas páginas da revista Diana. Pelos anos sessenta, JAS trocaria espingarda e pincel pela máquina fotográfica, compondo o seu apreciado livro Gorongosa.
Em Portugal no Ultramar, dois volumes de inflamado patriotismo e oportunismo comercial, versando a presença portuguesa em África, encontramos um sortido fino de ilustrações, repescadas de publicaçãos anteriores da Agência Geral do Ultramar. Por entre Stuart, Augusto Gomes e Jorge Barradas, encontramos três ilustrações de tipos indígenas de virtuoso contraste positivo-negativo, onde JAS prolonga a sua visão idílica de uma exótica África negra.
Big game hunting
The elephant, buffalo, rhinoceros, hippopotamus and lion are all on a long list of animals often killed to protect agricultural land and local populations. João Augusto Silva, JAS (Ilha da Brava, Capo Verde, 1910 – Paço d’Arcos, 1990) wrote in celebration of big game hunting when he was a government administrator in Mozambique between the 1940s and 60s. As superintendent he managed the administrative division that included Gorongosa and thus supervised its National Park. This allowed him to study species of wild animals in their natural habitat and later document them in charming books. In May 2013, the Geographic Society of Lisbon paid tribute to the former colonial civil servant, naturalist, writer and illustrator, who had brought these threads together so that African fauna and culture could be preserved and not forgotten. Proof of this is the very title of his first book Da Vida e Amor da Selva [Of Jungle Life and Love], which came out in 1936 and was awarded the Colonial Literature Prize by Agência Geral das Colónias [Portugal’s General Agency of the Colonies].
Grandes Chasses is a guide to big game hunting in the Portuguese colonies in Africa. It was published in French to coincide with Portugal’s participation at the Paris International Exposition in 1937 along with other books to celebrate the occasion, such as Quelques Images de L’Art Populaire Portugais, illustrated by Paulo Ferreira, La Maison Portugaise à Travers les Âges, by Jorge Barradas and the set of postcards Types de L’Empire Portugais by the artist Eduardo Malta. The miscellany clearly reflects the lack of artistic guidelines with João Augusto Silva’s decorative illustrations joining Malta’s academic realism, Barradas’ bleak verissimo and Paulo Ferreira’s joyful naïve art. Their formal composition, stylised drawing lines of great anatomical precision and black and white contrast provide an allegorical hunting imagery far from the predatory and brutal realities of wildlife in the African savannah, unlike the book cover, which illustrates it with stylised violence and a mortally wounded antelope much as in classic representations of the masochistic Saint Sebastian.
The two volumes of Portugal no Ultramar are fervently patriotic and commercially opportunistic by glorifying the Portuguese colonial presence in Africa. We have here a very fine collection of illustrations selected from earlier Agência Geral do Ultramar [Overseas General Agency] publications. Among those by Stuart, Augusto Gomes and Jorge Barradas, there are three illustrations portraying indigenous people in which JAS continues his idyllic idea of an exotic black Africa with superb positive-negative contrast.
As ilustrações foram restauradas digitalmente The illustrations were digitally restored
Fontes Sources
http://amigosdagorongosa.blogspot.pt/2013/03/4-homenagem-joao-augusto-silva.html
http://selvamaravilhosa.wordpress.com
http://malomil.blogspot.pt/2012/05/joao-augusto-da-silva-1910-1990.html
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