A morte ceifou-o aos 29 anos. Cometa fulgurante da ilustração portuguesa, ainda foi a tempo de se tornar mestre dos mestres e legar uma extensa galeria de retratos a tinta-da-china e lápis que influenciou os maiores artistas da sua época. O reconhecimento desse indiscutível talento, deu-o o SNI (Secretariado Nacional de Informação) em 1944, instituindo um prémio de desenho e aguarela com o seu nome. Passou os três últimos três anos da sua vida num verdadeiro frenesi criativo, compensando o magro orçamento familiar com a vasta obra publicada nas revistas Ilustração, Seara Nova, Magazine Bertrand, Civilização e Voga.
Ao número 29 de 1 de março de 1927, a Ilustração iniciou a publicação de uma bizarra obra de um escritor inglês, famoso pela criação do carismático Sherlock Holmes. O Mundo Perdido, de Arthur Conan Doyle marca um renascimento da curiosidade científica e popular por tempos pré-históricos, hominídeos ferozes e avantajados dinossauros. A novela conta a história da expedição inglesa a uma meseta da Amazónia venezuelana onde sobrevivem animais ante-diluvianos. Foi publicada originalmente em 1912, na popular revista Strand Magazine, no mesmo ano do Tarzan de Edgar Rice Burroughs, cujas sequelas se passavam em mundos igualmente perdidos. Em 1915 seria a vez do cientista russo Vladimir Obruchev criar a sua própria versão de um mundo remoto no livro Plutónia, com dinossauros e outra bicharada jurássica no subsolo da Sibéria.
O horror e espanto de tão estranhos mundos são bem servidos pela cruas ilustrações de José Tagarro (Cartaxo, 1902-Lisboa, 1931). Em 16 números consecutivos da revista, ilustra o enredo com poderosas imagens que se distanciam dos seus virtuosos desenhos de cavalete. O nervosismo do traço, alternadamente fino e forte, tem uma estudada displicência, em composições densas ou em figuras recortadas, mas as molduras incompletas e a linearidade das sombras refletem ainda a oscilação entre as convenções das décadas anteriores e a estética modernista. Para os répteis não havia modernismo possível e Tagarro assume a crença oitocentista em dinossauros pesadões que arrastavam a cauda pelo chão.
Lost Worlds
He was like a dazzling comet in the history of Portuguese illustration, and despite his early death at the age of 29, he became a master of masters and left a large collection of portraits in China ink and pencil that were to influence leading artists of the time. SNI (the then Portuguese propaganda office) set up a drawing and watercolour prize in his name in recognition of his undeniable talent. He spent the last three years of his life in a truly creative frenzy making up for his family’s meagre income with a vast amount of work for magazines such as Ilustração, Seara Nova, Magazine Bertrand, Civilização and Voga.
On 1 March 1927, Ilustração issue No. 29 began to publish a strange novel by an English writer famous for having created the charismatic Sherlock Holmes. Arthur Conan Doyle’s The Lost World marks a revival of scientific and popular interest in prehistoric times, ferocious hominoids and massive dinosaurs. The novel is about an English expedition to a plateau in an Amazon area of Venezuela where prehistoric animals survived. It was first published in the popular Strand Magazine in 1912, the same year as Edgar Rice Burroughs’s Tarzan, whose sequels also took place in lost worlds. In 1915, it was the turn of a Russian scientist, Vladimir Obruchev, to create another version of an antediluvian world in Plutonia with dinosaurs and other Jurassic creatures in some underground region of Siberia.
The shock and horror of such strange worlds are well served by the unfinished-looking illustrations of José Tagarro (Cartaxo, 1902-Lisbon, 1931). In 16 successive issues of Ilustração, he illustrated the story with powerful drawings that differ greatly from his virtuoso work at the easel. A blending of fine and thick lines reveals a calculated casualness in dense compositions at variance with the cut-out figures. The partial frames and shadowing in linear lines also reveal that he wavered between conventions of previous decades and Modernist aesthetics. But there was no Modernism possible for reptiles and Tagarro’s illustrations reproduce the nineteenth-century belief in enormous dinosaurs with long tails trailing behind them.

—Essa reconstituição de um monstro pré-histórico apresentava uma parecença extraordinária com o esboço do desconhecido artista.

Entretanto, necessitamos dar as nossas instruções ao fiel Zambo, que do cimo da agulha, onde acabara de aparecer, nos atirava latas de cacau e de biscoitos.

Este lugar, já de si tão sinistro, revestia, por efeito dos entes que o ocupavam, o aspecto de um dos sete ciclos dantescos, pois servia para as reuniões de pterodáctilos, que ali se contavam por centenas.

Ao lado de Challenger estava o rei dos homens-macacos. Este em ruivo, aquele em negro eram bem, como tinha dito lord John, a viva imagem um do outro…
As ilustrações foram restauradas digitalmente
Fontes Sources
Ilustração em Portugal I, Theresa Lobo, IADE Edições, 2009
José Tagarro, Barata Feyo, Artis, 1960
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