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histórias da ilustração portuguesa

Cine-Tokalon

 

Cine-Jornal, 1937

No mundo assustador dos anos 30, caminhando a passos largos para a guerra total, o cinema era o lugar de escape. As salas enchiam-se de multidões ávidas de ídolos e ilusões. Vedetas europeias e americanas como Clark Gable, Errol Flyn, Greta Garbo ou Pola Negri, faziam sonhar com paixões românticas, beleza e juventude eternas e um casamento no fim. Entre 1935 e 1939, a publicidade dos cremes Tokalon, marca de cosméticos suíça, é puro cinema. O argumento tem enredo, mulheres fatais, galãs sedutores, traição e ciúme e, claro, um happy end. Mas a versão “dobrada” em português exagera. O argumento original mantém-se, mas a ilustração acentua parodicamente fealdades e belezas do antes e depois.

Sardas, rugas e pontos negros atingem dimensões monstruosas capazes de aterrorizar a alma mais insensível. A desejada brancura da pele colava aos ventos de arianismo que varriam a Europa. O Tokalon salvava literalmente a pele ao casamento burguês e católico, contraditoriamente cúmplice de alguns dos mais tenebrosos pecados capitais. A narrativa gráfica, copiada de imagens reais, fazia-se tela de filme, com planos bem demarcados, entre pares enlaçados e tristes feias, em cenário romântico ou feérico ou grandes-planos reveladores. Surpreende a incrível profusão de anúncios, que atinge a centena e meia de desenhos diferentes, publicados em cadência semanal. A presença nos periódicos portugueses é transversal. Desde o cosmopolita Cine-Jornal até ao literário e polemista O Diabo, passando pela inevitável Modas & Bordados.

 

O Diabo, 1936

Pénélope, 1933 e Cine-jornal, 1936

Cine-Jornal, 1937

Cine-Jornal, 1937

Cine-Jornal, 1939

Cine-Jornal, 1936

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