almanaque silva

Ícone

histórias da ilustração portuguesa

Alice Forever

Dedicado a José Oliveira, editor de literatura infanto-juvenil da Editorial Caminho de 1976 a 2012

Rosa, Minha Irmã Rosa, o primeiro romance para jovens da escritora Alice Vieira, vai já na sua 21.ª edição, com a bela idade de 31 anos. Como em muitos outros livros incluídos na coleção com o seu nome, Alice foca frequentemente o quotidiano atual  da juventude urbana, o apelo ao consumo, a televisão, os relacionamentos com a família, os adultos e a velhice, numa escrita ágil, realista e, não raro, em jeito de diário de adolescente. Muitos outros livros da coleção, publicados ao longo das décadas de 80 e 90 na Editorial Caminho, tiveram a mesma sorte, com reedições sucessivas. Em 2008, a Caminho deu novo fôlego à reedição integral da coleção Obras de Alice Vieira, com novo grafismo e ilustrações.

A assimetria entre os ciclos de vida de textos e imagens é um dos fenómenos mais curiosos da edição infanto-juvenil portuguesa. As narrativas costumam envelhecer bem melhor do que as imagens que as acompanham. A voragem visual dos nossos tempos enruga facilmente as ilustrações e pode causar perplexidade em escritores ou editores mais velhos. Autores e ilustradores de gerações diferentes podem ser uma mistura estimulante que funciona bastante bem nos picture books infantis, mas o texto denso dos livros para adolescentes convida a um maior acerto na escolha do ilustrador. Novas ilustrações para textos consagrados são também requisito essencial dos aparelhos comerciais das editoras, atraindo novos leitores cuja educação visual vai descolando da tutela de pais e educadores.

Bernardo Carvalho (Lisboa, 1973) redesenha e ilustra as capas desta coleção de Alice Vieira. O universo gráfico de Bernardo, que é também o do seu prestigiado ateliê e editora Planeta Tangerina, não faz concessões. Aparentemente simples, as ilustrações são de uma erudição gráfica superlativa. Expoente da última geração de ilustradores digitais, Bernardo projeta no ecrã subtis tramas de planos e formas em layers de cores lisas e contrastadas, sublinhadas com o seu intermitente traço pincelado a preto. A metáfora gráfica furta-se ao primeiro olhar do leitor, focado na ternura com que o ilustrador traça os personagens que seguem docilmente as peripécias ou o título do enredo. Essencialmente digital, o desenho confere às capas de Alice uma honestidade artesanal. O desenho é a mensagem, sobretudo nos gestos e olhares, e nos segundos planos escondidos na contracapa, que atingem um lirismo raro na ilustração portuguesa contemporânea.

Dedicated to José Oliveira, children’s books editor at the Editorial Caminho publishers from 1976 to 2012

 Alice forever

Rosa, Minha Irmã Rosa was Alice Vieira’s first book for children and now in its 21st edition, it has reached the age of 31.  As in many books in the Alice Vieira collection, the author often focuses on the everyday life of urban youth, their consumerism, TV habits, relations with family, adults and the old. She writes in a lively, realistic manner frequently in the form of a diary. Various other books in the collection, which Editorial Caminho published in the 1980s and 90s, were also consecutively re-edited. In 2008, Caminho breathed new life into a complete re-edition of her collection Obras de Alice Vieira with new graphics and illustrations.

That the life cycles of text and images are out of sync is one of the most interesting phenomena of Portuguese children’s books. The stories themselves usually age far better than the illustrations.  The visual whirl of our times soon makes illustrations looks old and may mystify older writers and editors. Writers and illustrators from different generations can prove a stimulating combination that works very well in children’s picture books, but the denser texts written for teenagers requires that the choice of illustrator be absolutely right. Fresh illustrations for famous books are also essential for the commercial side of publishing as they attract a new readership whose visual education slowly moves away from under the tutelage of parents and teachers.

Bernardo Carvalo (Lisbon, 1973) redesigned and illustrated the new covers for this Alice Vieira collection. Bernardo’s graphic world, which is that of his celebrated Planeta Tangerina atelier and publishers, makes no concessions. Seemingly simple, his illustrations are of great graphic sophistication. Exponent of the latest generation in digital illustration, Bernardo projects onto the screen a subtle mesh of planes and forms in layers of plain and contrasting colours, enhanced by intermittent black brushstrokes. The graphic metaphor escapes at first the reader’s eye as it fixes on the tenderness with which the illustrator draws the characters that dutifully follow the adventures in the storyline. Essentially digital, the drawings endow Alice’s books with honest craftsmanship. The drawing is the message, especially in gestures and glances, and in the second planes hidden on the back cover, they achieve a lyricism that’s rare in contemporary Portuguese illustration.


Se perguntarem por mim digam que voei, 6.ª edição, 2008

Úrsula, a maior, 8.ª edição, 2008

Viagem à roda do meu nome, 11.º edição, 2010

Águas de verão, 10.ª edição, 2009

25 a sete vozes, 2009

Os olhos de Ana Marta, 2010

Às dez a porta fecha, 7.ª edição, 2009

Fontes Sources  http://www.dglb.pt/sites/DGLB/Portugues/autores

Filed under: Bernardo Carvalho,

Visitas

  • 622.832

Posts