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histórias da ilustração portuguesa

Sardina albertis

Ei-la! Gorda e suculenta a pingar no pão ou gráfica e garrida em cartazes e pendões. É a nossa Sardina pilchardis que, apesar do aquecimento global e das severas quotas de pesca, inunda Lisboa por este quente mês de junho. Entre as milhares de propostas recebidas no concurso público que a EGEAC organiza todos os anos para ilustrar sardinhas (cerca de 9 mil em 2016), um concorrente pareceu ter, nos últimos anos, uma fórmula secreta para vingar no concurso. Alberto Faria (Lisboa, 1966), ilustrador e designer, teve três sardinhas premiadas nos concursos de 2013, 2014 e 2015. Poderíamos supor que as milhares de propostas recebidas todos os anos obrigariam os jurados a compensarem as criações mais originais e fantasiosas. Mas as sardinhas de Alberto Faria  não apresentam metáforas originais e revisitam, ao invés, situações bem conhecidas da iconografia lisboeta. A fórmula, a existir, não foi obra de acaso. Em 2012, Faria concorreu com três sardinhas e nelas se reconhecem já ingredientes da receita que triunfaria nos anos seguintes.

marinheiro 2012 ok

fogareiro 2012 ok

telhados 2012 ok

Sardinhas 2012

O que torna então as sardinhas de Faria irresistíveis para o conjunto de jurados, sempre diferente todos os anos? A sardinha de 2013  com a sua encosta do castelo, de planos intersectados verticais e horizontais, com gato, manjerico, fogareiro, gaivota e candeeiro, mar e paquete, é um prodígio de composição. E o Santo António, de 2015? Todos os anos aparecem umas dezenas deles a concurso, com os mais variados grafismos. Que tem o santo de Faria de especial? De abanico na mão, este António, todo olhos, vela pelo fogareiro onde se assam promissoras sardinhas. Nada de extraordinário, portanto. E a surpreendente geometria da sardinha quiosque, de 2014 é, ainda assim, mais uma imagem da bonomia lisboeta.

Alberto encarna a máxima do canadiano Marshall McLuhan, filósofo estimado no Almanaque, de que «o meio é a mensagem». A Faria não interessa a história, interessa como a história se conta. E Faria conta-a muito bem. Num registo gráfico que podemos incluir numa tendência maioritária da ilustração editorial recente: registo digital com simulação manual, paleta de cores planas puras ou complementares, salpicadas por discreta erosão nas texturas; jogo de dominó com claro e escuro, positivo e negativo; e, por último, a subtração do traço linear que deita a perder milhares de outras sardinhas. Faria mostra o melhor dos dois mundos: mensagem clara e grafismo contemporâneo.

Microsoft Word - Regulamento do Concurso Sardinhas Festas de Lis

Sardinha 2013

quiosque2014.jpg

Sardinha 2014

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Sardinha 2015

Alberto Faria não teve o mesmo sucesso este ano e a sua sardinha não saíu vencedora. O risco de um tema político deve ter sido bem calculado, já que o 25 de Abril incorpora o adn da cidade. Não, a sardinha abrilista de Faria não deve ter assustado o júri. Mas o registo linear e a figuração retro da criança, poderão ter ditado a exclusão do lote das vencedoras. Tivesse Faria traçado o miúdo, o cravo e a G3 ao jeito dos anos anteriores e teríamos o tetra.

Até para o ano, Alberto.

2016.jpg

Sardinha 2016

Filed under: Alberto Faria, ,

3 Responses

  1. henriquemlgil diz:

    Ena! Acordado pelas ou para as sardinhas. Bons olhos vejam novas postas aqui.

  2. Acompanho o Almanaque Silva desde 2012 ou antes. Nunca havia comentado nenhuma postagem. Queria deixar aqui meus parabéns, esse blog é muito bom.

  3. Cte. Santos Leitão diz:

    Ganhando ou não o Alberto Faria é um Artista. Parabéns.

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