O louceiro nasceu em Inglaterra no final do século XVII, de uma encomenda da rainha Mary aos artesãos ingleses para guardar e expor as tradicionais porcelanas em azul e branco do seu país de origem, a Holanda. Espalhou-se por toda a Europa e foi um móvel fundamental nas cozinhas e salas de jantar portuguesas até aos anos 70 do século XX. O singelo louceiro de madeira recheava-se de copos, taças, pratos e travessas, em alegre cacofonia, concorrendo para a paz doméstica e a inveja das visitas.
Parente pobre do naperon e da sanefa, o papel de louceiro ou papel de prateleira alegrava as casas pobres e remediadas, decorando as prateleiras superiores do móvel. Em papel de baixa qualidade, impresso nas rotativas dos jornais, o papel de louceiro era uma alternativa barata e atraente, em eficazes combinações de cores complementares ou em simples vermelho sobre o creme do papel. Em tiras modulares de 18 x 57 cm, pregadas com pioneses no rebordo das prateleiras, o papel de louceiro dos anos 50 e 60 apresentava ilustrações de sabor popular e autoria anónima, desde evocativas férias à beira-mar até populares diversões como a tourada ou frutas e hortaliças de variadíssima pinta. Nem mesmo faltava uma pitada de humor com cenas de magalas e sopeiras ou de dorminhocos carregadores de tinto, em esboço de sequências narrativas que evocavam claramente outras artes como a banda desenhada e o cinema de animação. As orlas do papel de louceiro repetiam-se, frequentemente, em traçado geométrico bem mais erudito, num formato que replicava as faixas em tecido, bordadas ou costuradas para o mesmo efeito. A popularidade desta simpática decoração contagiava mesmo as casas mais pobres: os seus papéis de louceiro eram vulgares folhas de jornal impresso, recortadas à tesoura.
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Linda colecção de imagens, como sempre. Por curiosidade, um exemplo da versão em papel de jornal.
♥
lindo! obrigado jorge por mais uma!
Gostei muito, mas deixe-me acrescentar que a outra designação para papel de louceiro, mais generalizada, sobretudo no Norte é a de “papel de prateleira”. Precisamente porque era usada nas prateleiras da cozinha, onde nem sempre havia louceiro.
Um abraço
Esta garfada em seara alheia tem os seus riscos…
Ana, obrigado pela atenção e pela informação complementar.
Vou introduzi-la no post em breve
O desenho com tema desportivo é muito semelhante ao de um dominó, se não me engano da Majora.